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Documentos revelam indícios de envolvimento de Rogério Andrade no assassinato de Marcos Falcon

Os relatos — obtidos pelo EXTRA — apontam que, pouco depois do homicídio, integrantes da quadrilha de Andrade invadiram, armados, o Campo do Falcon, onde funcionava o centro social que era gerido pela vítima

Depoimentos de seis testemunhas e arquivos extraídos de uma conta de e-mail trouxeram à tona indícios do envolvimento de Rogério Andrade, o bicheiro mais poderoso do Rio, no assassinato do ex-presidente da Portela e subtenente da PM Marcos Vieira de Souza, o Falcon. Os relatos — obtidos pelo EXTRA — apontam que, pouco depois do homicídio, integrantes da quadrilha de Andrade invadiram, armados, o Campo do Falcon, onde funcionava o centro social que era gerido pela vítima, em Oswaldo Cruz, na Zona Norte do Rio.

As testemunhas também expuseram aos promotores do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ) bastidores da relação conturbada entre o sobrinho de Castor de Andrade e o PM: Andrade desconfiava da participação de Falcon no atentado a bomba que acabou vitimando seu filho, em 2010; já o subtenente estaria tramando o assassinato do bicheiro quando foi executado.

Falcon era candidato a vereador quando foi executado a tiros, em setembro de 2016, por homens armados dentro de seu comitê de campanha. O crime até hoje não foi esclarecido, mas a investigação ganhou fôlego ao longo do ano passado, quando promotores do Gaeco encontraram novas provas em arquivos extraídos de uma conta de e-mail de Flávio Santos, presidente da Mocidade Independente de Padre Miguel, apontado como braço direito de Rogério.

Após a quebra do sigilo de Santos, os promotores encontraram duas fotos do corpo de Falcon tiradas logo após a execução e prints de diálogos que confirmam a conexão do presidente da Mocidade com um casal suspeito de entregar o então candidato a vereador aos atiradores: Michele de Mesquita Pereira, ex-mulher de Falcon que trabalhava em seu comitê de campanha, e seu atual companheiro, o PM Anselmo Dionísio das Neves, o Peixinho.

Em depoimentos prestados ao Gaeco, parentes e amigos de Falcon revelaram que, após o crime, Michele e Peixinho se associaram a Flávio Santos para tomar o controle do Campo do Falcon e impedir que um antigo sócio da vítima voltasse a administrar o local. Santos, então, teria delegado a missão de invadir o campo a um de seus seguranças, o PM Fábio da Silva Cavalcante. “A assunção do Campo do Falcon por Michele se deu com a aquiescência e proteção de Flávio, contraventor braço direito de Rogério Andrade”, afirmou uma das testemunhas.

Já uma pessoa que trabalhava para Falcon no campo contou que “houve uma reunião no Campo da qual participaram em torno de 30 a 40 homens representando Flávio”. Ao final do encontro, ficou decidido que Michele passaria a administrar o local. Após essa data, segundo outro depoimento, 20 homens com fuzis liderados pelo PM Fábio Cavalcante passaram a fazer a segurança do campo.

Na conta de e-mail de Flávio Santos, os promotores encontraram prints de uma troca de mensagens em que Peixinho tenta viabilizar, com um intermediário, um encontro com o presidente da Mocidade. “Eu preciso falar com ele, a Michele também. Tirar algumas dúvidas, nada demais”, escreveu Peixinho. O interlocutor explicou que Flávio garantia que “tudo vai continuar como sempre foi, não vai mudar nada” e disse que tentaria marcar o encontro.

A confirmação da relação entre Michele, Peixinho e Flávio Santos levou o Gaeco a pedir à Justiça mandados de busca contra o braço direito de Rogério Andrade e seu segurança — que foram cumpridos em 18 de dezembro. Atualmente, essa é a principal linha de investigação do crime.

Peixinho já é réu na Justiça sob a acusação de ter tentado atrapalhar as investigações do caso. Ele entrou no comitê de campanha logo após o assassinato, mexeu no corpo e levou um dos três celulares da vítima. Poucos dias depois, o PM devolveu o aparelho para parentes de Falcon. O celular, entregue pela família da vítima ao Gaeco em 2019, não pôde ser periciado porque estava danificado.

Campo fica em terreno público

O terreno onde fica o Campo do Falcon pertence ao governo do estado: em 1997, o então governador Marcello Alencar desapropriou a área para a instalação de um posto de vistoria do Detran, mas a ideia não foi à frente. No ano seguinte, Falcon conseguiu, junto ao governo, autorização para utilizar o espaço por 15 anos, fez reformas e transformou o espaço num campo de futebol, com oferta de atividades assistencialistas para a população que vivia no entorno.

Em 2015, o estado conseguiu, na Justiça, o direito de retomar o controle do terreno, mas até hoje não houve nenhuma iniciativa para recuperá-lo. Desde 2022, a parte dos fundos, na Travessa Maria José, vem sendo loteada e vendida. Algumas construções até já foram erguidas no local, e há anúncios de venda de lotes espalhados por postes da região.

Motivação do crime

Os depoimentos prestados ao Gaeco também jogam luz sobre as rusgas entre Falcon e Rogério Andrade. Segundo um parente do PM, o bicheiro não tinha boa relação com Falcon porque desconfiava “de sua participação na morte do seu filho”, já que o subtenente fez “curso no exterior sobre explosivos”. O filho mais velho de Rogério, Diogo Andrade, foi morto aos 17 anos num atentado a bomba em 2010, na Barra da Tijuca, que tinha seu pai como alvo — crime até hoje não esclarecido.

Meses antes de ser morto, Falcon teria confidenciado a parentes que sabia que seria alvo de Andrade. Uma testemunha contou ao Gaeco que, naquele mesmo ano, Falcon teria sido convocado por um velho amigo, o também PM Geraldo Pereira — com quem trabalhou como adido em delegacias da Polícia Civil —, para participar de um plano para matar Rogério Andrade.

Na época, Pereira vivia um litígio com o bicheiro: após mais de uma década arrendando pontos de jogo do bicho de Andrade em Jacarepaguá, o PM queria virar dono da área sem a anuência do capo. Em maio daquele ano, Pereira foi executado a tiros quando entrava numa academia no Recreio. Em agosto, foi a vez de o ex-PM André Serralho, primo de Pereira, ser assassinado. Diante da sequência de mortes, Falcon teria escrito a um parente: “Eu serei o próximo”.

Rogério Andrade está preso desde outubro passado sob a acusação de ter mandado matar Fernando Iggnácio, seu rival pelo espólio de Castor de Andrade. A defesa de Flávio Santos não retornou o contato do GLOBO. Os demais citados não foram encontrados.

Fonte: Rafael Soares – 05/01/2025

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