Advogada disse que Hamdan Ballal está preso em delegacia de Israel. Ballal é codiretor de ‘Sem Chão’, que venceu Oscar de melhor documentário. Antes de ser preso, ele foi espancado por colonos judeus e retirado de ambulância por soldados, diz codiretor.
O cineasta palestino e vencedor do Oscar Hamdan Ballal, detido após ser espancado por colonos judeus, foi liberado da prisão por Israel nesta terça-feira (25), afirmou Yuval Abraham.
Abraham, jornalista israelense, codirigiu com Ballal o documentário “Sem Chão”, premiado com o Oscar de melhor documentário neste ano. Veja detalhes mais abaixo.
“Hamdan Ballal está livre e prestes a ir para a casa com sua família”, disse. Abraham.
Na segunda-feira (24), Abraham afirmou que Hamdan Ballal foi espancado por colonos judeus na Cisjordânia e depois detido por soldados de Israel. O Exército israelense confirmou a prisão, alegando que ele lançou pedras contra os colonos judeus.
Tentativa de roubo de ovelhas
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Segundo o prefeito de Susiya, cidade na Cisjordânia, a agressão contra Ballal começou após colonos judeus tentarem roubar ovelhas de casas palestinas.
Ballal estava participando de um encontro pelo fim do jejum diário do Ramadã quando o grupo atacou a reunião. Segundo a agência de notícias Associated Press, testemunhas disseram que o grupo tinha de 10 a 20 colonos mascarados que usaram pedras e bastões no ataque.
“Colonos invadiram casas, atiraram pedras, quebraram janelas e veículos e agrediram violentamente moradores e ativistas de solidariedade. Várias pessoas ficaram feridas”, disse o ativista palestino Ihab Hassan, uma das testemunhas do ataque, na rede social X.
Após o ataque, Ballal foi algemado e vendado a noite toda em uma base do Exército, enquanto dois soldados o espancavam no chão, disse sua advogada, Leah Tsemel.
As Forças Armadas de Israel confirmaram a prisão de Ballal e afirmaram que ele estava entre os palestinos que arremessavam pedras contra colonos judeus. Mas o Exército negou que o cineasta foi retirado à força de uma ambulância, onde estava para tratar ferimentos do linchamento.
Segundo o codiretor Yuval Abraham, Ballal tinha ferimentos na cabeça e na barriga e estava sangrando.
Retomada das tensões
Desde o início do ano, após a assinatura de uma trégua já encerrada entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, conflitos têm emergido na Cisjordânia.
As forças israelenses vêm conduzindo uma grande operação na Cisjordânia, alegando ter como alvo grupos terroristas e extremistas. Dezenas de milhares de palestinos foram forçados a deixar suas casas em campos de refugiados, enquanto residências e infraestrutura foram destruídas.
Pela primeira vez em mais de 20 anos, Israel mandou tanques de guerra para o território, na cidade de Jenin, no fim de janeiro.
Em fevereiro, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, disse que ordenou que seus militares se preparem para uma “estadia prolongada” em partes da Cisjordânia, enquanto intensifica “operações contra grupos terroristas e extremistas”.
Atualmente, existem mais de 140 assentamentos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, que abrigam 450 mil israelenses. A presença deles é condenada pela comunidade internacional.
Apesar de ser considerado um território palestino, Israel detém o controle militar da Cisjordânia. Palestinos que habitam o território estão sujeitos à lei militar israelense. Isso quer dizer que palestinos residentes na Cisjordânia podem ser julgados por tribunais militares de Israel.
O documentário
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“Sem Chão” retrata a luta dos moradores de Masafer Yatta para impedir que o Exército israelense demolisse suas vilas. O filme tem dois diretores palestinos, Ballal e Basel Adra, e dois diretores israelenses, Yuval Abraham e Rachel Szor.
O Exército israelense designou Masafer Yatta como uma zona de treinamento militar de fogo real nos anos 1980 e ordenou a expulsão dos moradores, majoritariamente árabes beduínos.
Cerca de 1.000 habitantes ainda permanecem na área, mas os soldados frequentemente entram na região para demolir casas, tendas, reservatórios de água e plantações de oliveiras. Os palestinos temem que uma expulsão total possa acontecer a qualquer momento.
Fonte: Redação g1 – 25/03/2025